Os inuit organizam expedições para ensinarem os mais novos a viver da natureza e a preservar a sua cultura
Quando o gelo marinho envelhece, o sal afunda-se no oceano, elevando a água doce e potável. Charlotte Naqitaqvik recolhe um bule de água no campo de caça da sua família em Nuvukutaak, perto da comunidade da baía Árctica, no Norte do Canadá.
Texto e Fotografias: Acacia Johnson
Na primavera, quando os animais migram para norte e o Sol não chega a descansar, as crianças inuit juntam-se às suas famílias em expedições de várias semanas no Árctico canadiano.
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Tagoonak Qavavauq, uma anciã inuit, ensina as crianças a fazer um pão chamado bannock, durante uma visita escolar. O conhecimento ancestral de sobrevivência nas terras geladas está a desaparecer com os mais velhos. Muitos estão empenhados em transmiti-lo às gerações mais novas, sobretudo às crianças cujas famílias deixaram de caçar e de acampar. A aprendizagem de sobrevivência com recursos limitados é fundamental, numa fase em que a insegurança alimentar e a subnutrição são cada vez mais graves entre as comunidades inuit.
Uma falha no gelo implica uma travessia cuidadosamente planeada para Olayuk Naqitarvik, que puxa atrás de si o seu neto num qamutik, ou trenó, carregado com víveres para uma expedição da família. Embora doente e frágil, a mulher de Olayuk, Martha, insistiu que queria participar na transmissão dos seus conhecimentos aprofundados de sobrevivência às gerações seguintes.
Vestindo uma parka cosida pela mãe, Ashley Hughes passou o 10.º aniversário a acampar com amigos e família na baía Ikpikittuarjuk. Ashley participou no concurso anual de pesca.
Também a caça à foca é essencial para a vida dos inuit. A pele, como esta, obtida numa matança recente, será transformada em roupa. A transmissão dos conhecimentos sobre caça e obtenção de alimento para as próximas gerações ajuda as comunidades a sobreviver num clima instável.
Owen Willie, de 18 anos, caçou um ganso no acampamento da sua família, no Árctico canadiano. Owen juntou-se à expedição pouco depois de concluir o ensino secundário e passou a Primavera no rasto da migração dos gansos.
Darcy Enoogoo, de 36 anos, e a sua mulher, Susan, interrompem o trabalho todos os anos para levarem os filhos em expedições de caça à foca. A foca-anelada possui carne rica em vitaminas, gordura combustível e pele que pode ser transformada em roupas quentes.
Marie Naqitarvik, de 30 anos, não recebeu ensinamentos tradicionais em criança. Adquiriu-os depois de se casar com um caçador profissional. Agora ambos caçam nas terras dos seus antepassados, na companhia dos filhos, durante a Primavera.
Os mais velhos ensinam técnicas de caça e valores tradicionais transmitidos de geração em geração há mais de cinco mil anos.
Nas últimas três décadas, o gelo plurianual, o tipo de gelo mais espesso (e antigo) que sustenta o ecossistema marítimo do Árctico, diminuiu 95%. Os anciãos deixaram de conseguir prever rotas de viagem seguras sobre o gelo, cada vez mais fino, e os padrões migratórios dos animais estão a alterar-se.
O futuro do gelo e daqueles que vivem sobre ele é incerto.